O World of Warcraft estava no Cataclisma quando eu comecei a jogá-lo. E meu primeiro personagem foi um Renegado da classe Ladino (anos depois descobri que esta é a combinação raça/classe mais popular do jogo).
Porém, mais do que apenas jogar, eu criei toda uma história para o meu personagem. Escrevi este texto faz anos, e hoje estou compartilhando-o. Espero que alguém curta a história.
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| Thurbons no começo da sua jornada. |
Primeiro veio a dor. Uma dor nos pulmões. Então ela se espalhou pelo resto do corpo de David¹ “Windcrest” Morgan. Uma dor insuportável, mas, de certa forma agradável. Era a dor da vida.
Os Renegados (Forsaken) são uma das facções que compõem a Horda, uma das duas super-potências do mundo de Azeroth, junto da Aliança. Os Renegados são os mortos-vivos que se rebelaram contra o Lich Rei após conseguir se libertar de seu controle mental, quando o Frozen Throne se rachou. São comandados por Sylvannas Windrunner, que possui como preocupação o fato dos Renegados não poderem reproduzir. Ou possuía.
Com a morte do Lich King, as Val’Kyren, espíritos capazes de trazer os mortos de volta a vida, passaram a servir Sylvannas, que encontrou uma forma de aumentar os números dos Renegados. Quase imediatamente, iniciou-se uma operação para reanimar cadáveres nas Clareiras de Trisfal, trazendo também cadáveres de diversos outros lugares. Dentre eles o cadáver de David Morgan.
Reanimado, David Morgan ficou confuso e assustado em um primeiro momento, porém, devido ao seu jeito de ser, começou a se acostumar rapidamente com a idéia de ser um renegado. David era o sexto filho dos onze filhos dos Morgan, uma família camponesa que era explorada por um lorde nas proximidades de Ventrobravo. Cansado de viver de migalhas e querendo fugir do destino de pobreza da família, fugiu para a capital tentar a vida. Mas falhou em fugir da pobreza.
Analfabeto, sem dinheiro e sem posses, aprendeu a sobreviver nas ruas e começou a realizar pequenos furtos e a mendigar. Seus dias resumiam-se nisto: tentar sobreviver. Não havia tempo ou energia para crescer e se desenvolver quando mal tinha o suficiente para sobreviver. Seguia na sua vida, sem nenhum outro proposito, sem sonhos, sem amores, sem ideais. Logo, quando ficou maior e as esmolas começaram a diminuir, aprendeu a lutar com facas, única arma que tinha acesso. Começou a se envolver com futos maiores e até com assassinatos.
Foi convidado a fazer parte de um grupo. Julgando que isto aumentaria as suas chances de sobrevivência, aceitou fazer parte. E assim formou-se o quarteto de foras-da-lei chamado “aranhas”, que nunca ganhou fama. Dos quatro, ele recebeu o codinome de Windcrest, mas pouco se importava com codinomes. Importava-se com poucas coisas.
E assim ele passou os seus dias, sobrevivendo. Até que um dia, estava ele e o seu grupo sentado em um armazém abandonado, contando moedas e dividindo pedaços de pão quando... vazio. As lembranças terminam aí. Então percebeu que foi assim que morrera, de súbito, sem ter chance de se defender e nem de sequer entender como morreu, assim como matara alguns homens, mulheres e crianças em vida.
Sentou um instante. Contemplou o seu novo corpo. Um cadáver. Rasgou a pele dos joelhos e dos cotovelos, em um primeiro momento, sem entender o que estava fazendo, até que estava arranhando seus ossos. Mas eles ainda funcionavam! Parou para pensar. Estava vivo. Por mais que fosse uma vida em morte, mas estava vivo - e resolveu abraçar essa nova vida.
David Morgan abandonou o seu nome de vivo e adotou um novo nome, Thurbons (forma contraída de Through Bones – Através dos ossos). Aprendeu o que aconteceu no mundo enquanto estava morto e se surpreendeu o quanto Azeroth mudara nos dez anos que ficara morto. Começou a realizar serviços pelos Renegados, principalmente lutando contra a cruzada escarlate, um grupo de humanos que deseja destruir os mortos-vivos. Começou a se treinar nas técnicas da furtividade e do assassinato. Estava, mais uma vez, sobrevivendo. Ainda em meio a miséria e a podridão, mas a sua vida inteira ele estava imerso nisto, então, não fazia muita diferença.
Porém, Thurbons adquiriu na sua pós-vida algo que nunca teve: um propósito. Um objetivo. Algo que o movesse que fosse mais do que apenas sobreviver. Thurbons estava decidido a, custe o que custar, descobrir como e porque morreu. E não será uma tarefa fácil. Ventobravo, único lugar que julga poder conseguir pistas mais concretas; é fortemente protegida e a aliança vê em todos os renegados apenas inimigos. Seu clube de ladrões nunca foi famoso e ele não sabe o nome dos seus companheiros de bando, apenas seus apelidos (Starcrest, Mooncrest e Suncrest). Sequer sabe como seu corpo foi parar nas Clareiras de Trisfal. A única pista que possui, se é que pode-se chamar assim, é o fato de que o seu corpo se decompôs muito pouco nesses dez anos de morte, e isto não é algo natural.
Tal objetivo de pós-vida, entretanto, é difícil de se perseguir devidos aos inúmeros trabalhos a que é chamado. Existe muito a ser feito pelos Renegados, principalmente agora que eles estão em guerra com os Worgens, uma espécie de raça de lobisomens. Porém, Thurbons está disposto a descobrir como morreu e disposto a construir o império dos Renegados. Um império tão forte que talvez, algum dia, seja capaz de derrubar Ventobravo e assim Thurbons conseguirá as respostas que procura. E, mesmo que demore muito tempo, ele sabe que estará lá, pois, acima de tudo, é um sobrevivente.
Basicamente é isto. Hoje meu personagem está nas terras pestilentas orientais, atrás de um antigo soldado de Stormwind que se aliou à Cruzada Argêntea (Argent Dawn) e que pode ter uma pista sobre o passado do meu Assassino (Nota: Vou mudá-lo para Furtividade quando a nova expansão sair, condiz mais com o estilo de combate do personagem).
Hoje ele espera por mim, enquanto não tenho grana e tempo para voltar a jogar WoW.
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| Foi preciso remover o Tabardo, para convencer a Cruzada Argêntea. |


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