A notícia é do dia 05 de Maio, mas acho
que ainda vale deixar armazenada na memória do meu blog a reflexão.
Imagine um jogo que tem a seguinte
descrição:
“Você odeia negros? Quer descontar suas
frustrações com a comunidade negra? Bem, afora você pode. Assassine pessoas
negras e miscigenadas e evite matar pessoas brancas. Faça pontos antes que o
tempo acabe”
Que sentimentos vem à sua mente?
O Brasil é um país que está conseguindo
superar, aos poucos, o racismo ideológico e discursivo (o racismo estrutural
ainda tá é longe). Temos um avanço sobre os direitos das pessoas negras, e
conseguimos, em boa parte, vencer a desumanização da população negra¹.
Tendo dito, o mais provável (a menos que
você seja um “Reaça Declarado”) é que você tenha sentido que este jogo
ultrapassa o limite do ofensivo, que atenta contra algo que deveria ser intocável:
a dignidade dos seres humanos. Que o gosto de quem produz este jogo é bastante
duvidável.
Pois bem, este jogo não existe. Fiz toda esta introdução apenas para apresentar o jogo real. O fiz porque, de um modo geral, as pessoas já conseguem sentir uma empatia um pouco maior com a população negra do que com os LGBT's.
Pois bem, este jogo não existe. Fiz toda esta introdução apenas para apresentar o jogo real. O fiz porque, de um modo geral, as pessoas já conseguem sentir uma empatia um pouco maior com a população negra do que com os LGBT's.
Pois bem, o jogo real possui esta
descrição:
“Você odeia gays? Quer descontar sua
frustração com a comunidade ‘LGBT’? Bem, agora você pode. Assassine gays e
transgêneros e evite matar pessoas hétero. Faça pontos antes que o tempo acabe.”
Este jogo existe e ficou disponível na
Steam por um tempo, em uma área que serve para que as empresas testem se os
jogos agradam o público. Uma pré-loja. Depois de reclamações, a Steam resolveu
tirar o jogo.
Depois do ocorrido o estúdio se
manifestou e declarou que o jogo não pretende incentivar o ódio nem a violência
contra LGBT’s. Uma coisa que não faz muito sentido. Mas, de fato, é muito difícil
para as pessoas entenderem o que é discurso de ódio quando elas não pertencem a
nenhuma minoria.
Por exemplo, eu comecei fazendo uma
comparação sobre como a questão do racismo contra os negros está avançando aos
poucos. Mas não muito tempo atrás muita gente defendeu o Resident Evil 5 quando
ele colocou um homem branco atirando em Zumbis Negros na África – silenciando os
negros, inclusive, e relativizando racismo.
Em nota, o estúdio ainda disse “Ótimo,
era isso que a gente queria. Esperem só até o próximo jogo que estamos criando,
vai ser ainda mais ofensivo que esse”. O que leva a questão final deste
blogueiro sem tempo, mas que acha uma brecha quando é para problematizar:
Está vendo o que a sua indignação contra
o politicamente-correto está produzindo? Essa onda de reclamar contestando
quando um grupo sente sua dignidade ameaça acaba legitimando pessoas para
criarem coisas que incentivam o ódio e a perseguição.
O jogo foi retirado e de uma maneira
geral não houve tanto apoio público a empresa (não que eu saiba). Mas ele
existe. As pessoas que apóiam o racismo, a misoginia, a lgbtfobia e o extermínio
étnico, elas existem e ficaram bem felizes com a notícia. Apenas não demonstram
a cara publicamente. Mas estão lá, e sabem que contarão com o apoio das pessoas
de pouca empatia e que reproduzem as palmas e os parabéns ao politicamente-incorreto,
mesmo que apenas pela Zuera.
A questão final é: você quer apoiar estas
pessoas?
OBS:
1 – A desumanização da pessoa negra não
foi superada integralmente. Pessoas negras ainda têm parte de sua humanidade
relativizada de diversas formas, algumas explicitas e outras implícitas. Ou
seja, não foi totalmente superado não! Se quiser saber mais sobre o tema, eu
recomendo o site do Geledés, Instituto da Mulher Negra. Se informe com os próprios
negros se quiser saber mais sobre racismo e como combatê-lo.
POST SCRIPTUM: Hoje, dia 12 de Junho de 2016 houve um massacre em uma boate LGBT em Orlando, nos EUA. Escrevi sobre isto aqui, apenas cinco dias após ter escrito sobre este jogo. E deixo uma reflexão.
POST SCRIPTUM: Hoje, dia 12 de Junho de 2016 houve um massacre em uma boate LGBT em Orlando, nos EUA. Escrevi sobre isto aqui, apenas cinco dias após ter escrito sobre este jogo. E deixo uma reflexão.
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Rapaz manda mensagens para mãe durante massacre. |
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