terça-feira, 7 de junho de 2016

Noticia triste do dia

A notícia é do dia 05 de Maio, mas acho que ainda vale deixar armazenada na memória do meu blog a reflexão.

Imagine um jogo que tem a seguinte descrição:

“Você odeia negros? Quer descontar suas frustrações com a comunidade negra? Bem, afora você pode. Assassine pessoas negras e miscigenadas e evite matar pessoas brancas. Faça pontos antes que o tempo acabe”

Que sentimentos vem à sua mente?

O Brasil é um país que está conseguindo superar, aos poucos, o racismo ideológico e discursivo (o racismo estrutural ainda tá é longe). Temos um avanço sobre os direitos das pessoas negras, e conseguimos, em boa parte, vencer a desumanização da população negra¹.

Tendo dito, o mais provável (a menos que você seja um “Reaça Declarado”) é que você tenha sentido que este jogo ultrapassa o limite do ofensivo, que atenta contra algo que deveria ser intocável: a dignidade dos seres humanos. Que o gosto de quem produz este jogo é bastante duvidável.

Pois bem, este jogo não existe. Fiz toda esta introdução apenas para apresentar o jogo real. O fiz porque, de um modo geral, as pessoas já conseguem sentir uma empatia um pouco maior com a população negra do que com os LGBT's.

Pois bem, o jogo real possui esta descrição:


“Você odeia gays? Quer descontar sua frustração com a comunidade ‘LGBT’? Bem, agora você pode. Assassine gays e transgêneros e evite matar pessoas hétero. Faça pontos antes que o tempo acabe.


Este jogo existe e ficou disponível na Steam por um tempo, em uma área que serve para que as empresas testem se os jogos agradam o público. Uma pré-loja. Depois de reclamações, a Steam resolveu tirar o jogo.

Depois do ocorrido o estúdio se manifestou e declarou que o jogo não pretende incentivar o ódio nem a violência contra LGBT’s. Uma coisa que não faz muito sentido. Mas, de fato, é muito difícil para as pessoas entenderem o que é discurso de ódio quando elas não pertencem a nenhuma minoria.

Por exemplo, eu comecei fazendo uma comparação sobre como a questão do racismo contra os negros está avançando aos poucos. Mas não muito tempo atrás muita gente defendeu o Resident Evil 5 quando ele colocou um homem branco atirando em Zumbis Negros na África – silenciando os negros, inclusive, e relativizando racismo.

Em nota, o estúdio ainda disse “Ótimo, era isso que a gente queria. Esperem só até o próximo jogo que estamos criando, vai ser ainda mais ofensivo que esse”. O que leva a questão final deste blogueiro sem tempo, mas que acha uma brecha quando é para problematizar:

Está vendo o que a sua indignação contra o politicamente-correto está produzindo? Essa onda de reclamar contestando quando um grupo sente sua dignidade ameaça acaba legitimando pessoas para criarem coisas que incentivam o ódio e a perseguição.

O jogo foi retirado e de uma maneira geral não houve tanto apoio público a empresa (não que eu saiba). Mas ele existe. As pessoas que apóiam o racismo, a misoginia, a lgbtfobia e o extermínio étnico, elas existem e ficaram bem felizes com a notícia. Apenas não demonstram a cara publicamente. Mas estão lá, e sabem que contarão com o apoio das pessoas de pouca empatia e que reproduzem as palmas e os parabéns ao politicamente-incorreto, mesmo que apenas pela Zuera.

A questão final é: você quer apoiar estas pessoas?


OBS:

1 – A desumanização da pessoa negra não foi superada integralmente. Pessoas negras ainda têm parte de sua humanidade relativizada de diversas formas, algumas explicitas e outras implícitas. Ou seja, não foi totalmente superado não! Se quiser saber mais sobre o tema, eu recomendo o site do Geledés, Instituto da Mulher Negra. Se informe com os próprios negros se quiser saber mais sobre racismo e como combatê-lo.

POST SCRIPTUM: Hoje, dia 12 de Junho de 2016 houve um massacre em uma boate LGBT em Orlando, nos EUA. Escrevi sobre isto aqui, apenas cinco dias após ter escrito sobre este jogo. E deixo uma reflexão.


Rapaz manda mensagens para mãe durante massacre.

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