sábado, 28 de maio de 2016

Cultura do Estupro


Criei coragem e vim escrever mais uma postagem (tenho três no rascunho, mas pouco tempo e energia).

Quarta-feira dia 25 de Maio de 2016, um vídeo começou a circular na internet. Uma menina de 16 anos desacordada, sangrando, e homens rindo e fazendo chacota dela. O contexto: Trinta homens tinha drogado e abusado sexualmente na menina. TRINTA HOMENS!

E isto apenas a sete dias depois do 18 de Maio, dia NACIONAL de combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes. Entristeceu muito o meu dia.


Depois disso, começou um movimento questionando se a cultura do estupro realmente existe.

Sinto muito, geeks e gamers, mas a cultura do estupro existe sim.
Inclusive, a comunidade nerd/geek/gamer é muito machista!

A cultura do estupro é aquele conjunto de ideias e argumentos que dizem que existem casos em que a mulher merece ser estuprada; ou que, ainda, a culpa por ter sido estuprada foi dela e não da pessoa que deliberadamente a estuprou.

Se uma mulher andar nua em um canto cheio de homens adultos, ela merece:
A) Ser estuprada
B) Responder por atentado ao pudor

Jill Valentine. Pena que aos olhos da Capcom
ela não serve de protagonista para a linha principal.
Se você pensou que a letra A era uma resposta adequada, você ajuda a manter a cultura do estupro. Você ajuda a perpetuar a ideia de que o corpo da mulher é um objeto, e que os homens possuem o direito de usufruir deste objeto. Sinto lhe informar, mas mulheres não são objetos, elas são seres humanos e nada (repito NADA) justifica violar a integridade física delas.

Inclusive, a cultura do estupro cria diversos argumentos falsos para colocar a culpa na vítima, e desviar o foco do agressor: Se ela estivesse estudando isto não aconteceria; se ela estivesse na igreja isto não aconteceria; se estivesse em casa isto não aconteceria; se estivesse trabalhando estaria tudo bem; se tivesse um namorado fixo ela não sofreria estupro; se ela tivesse inocência ela não seria estuprada...

E o que querem dizer com isto? Quer dizer que se ela sair de casa/da igreja/dos estudos isto dá a um homem o direito de violá-la? ME POUPEM!


E daí eu quero chegar em outro ponto: os vídeo-games, assim como outras mídias, colaboram para manter a ideia de que mulheres são objetos e seus corpos são mercadoria a disposição dos homens.

Contribuímos para que os homens se sintam no direito de estuprar as mulheres quando:

- quando falamos que toda garota gamer quer atenção ou namorado;
- quando falamos que garotas gamers que tem namorados não deveria jogar, mas fazer "algo produtivo";
- assediamos as mulheres que estão jogando conosco no Call of Duty ou no Battlefield;
- xingamos um jogador no MOBA assim que descobrimos que é uma mulher;
- passamos a dar stalk no profile de jogadoras nas redes de gamers;
- quando começa a xingar qualquer mulher de louca, vagabunda, promiscua, etc... quando ela reclama de alguma coisa que as ofende (eu ouvi Tracer?)
- reclamamos que uma personagem X ou Y é ruim porque ela não é sexy o bastante, como se toda mulher tivesse essa obrigação;
- reclamamos que mulher não serve para ser protagonista de um filme ou de um jogo (Widowmaker dos Vingadores foi alvo de uma polêmica destas)
- quando usamos expressões tipo "joga igual mulher" para jogador ruim, ou então quando colocamos que lugar de mulher nos jogos é sendo suporte/curador dos jogadores homens.


Em todos os casos acima, a comunidade está reforçando a ideia de que mulheres são objetos/são inferiores aos homens. O estupro não é fruto de um desejo incontrolado, é uma questão de poder, de afirmação de uma superioridade, de corrigir uma mulher por ela não ser submissa ou atender as expectativas. O estupro é um ato intencional que tem como raiz o a ideia de que a mulher está lá para ser usada. Que os homens tem este direito. 

Não são monstros. Todo homem estuprador é uma pessoa normal que aprendeu que ele pode estuprar as mulheres, que se sentiu legitimado pela sociedade, pelos amigos, pelos colegas. Legitimado não apenas de forma direta, com incentivos, mas também de forma indireta, a partir das nossas omissões e silêncios.

Então, quando você nerd/geek faz alguma das coisas listadas mais acima, você reforça a cultura do estupro. Quando você vê uns amigos fazendo piadas sobre estupro ou sobre abusar de mulheres, você está ajudando a manter no ar a ideia de que é legitimo abusar do corpo das mulheres. Você é responsável sim pelo machismo nosso de cada dia, de cada partida, de cada chat.


Finalizo este post com um trecho de um texto muito bom:

"Eu não luto o suficiente contra a cultura do estupro. Qualquer luta da qual eu faça parte terá suas limitações nesse sentido: sou homem, e por mais que tenha alguma criticidade, que tente problematizar o machismo, questionar o patriarcado, não consigo por minha própria conta me desfazer dos privilégios que tenho pela condição de ser homem. Nós, homens, somos os únicos responsáveis históricos pela criação das bases materiais e subjetivas que criam as condições para que tenhamos uma vítima de estupro a cada 11 minutos no Brasil, e somos os maiores responsáveis por sua reprodução cotidiana. Eu, você e todos os demais somos os responsáveis"


Fica a reflexão.
(E amanhã faço meu post sobre Spellweaver. Questão de honra!)

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